Monday, 4 November 2013

Nascimento da Livia - O parto


(Esse post foi escrito ha quase 1 mes jah. Soh faltava publica-lo). Bem, cah estou para contar como foi o parto da Livia em 06 de setembro de 2013. 

Antes de falar do parto em si, um pouco do historico de como foi o do Lucas para justificar algumas das minhas decisoes no caso dela. O parto do Lucas foi vaginal, conforme eu descrevi aqui, mas não foi exatamente natural. A contar do estágio inicial do trabalho de parto até o nascimento, foram quase 48 horas.

As contrações começaram por volta de 11pm do dia 02 de maio de 2011 e o Lucas nasceu as 09:30pm do dia 04. Lucas nunca encaixou. Eu tomei anestesia com 5cm de dilatação. E ele teve os batimentos cardíacos alterados, entrando em sofrimento, o que me impediu de fazer os “pushes” e ele nascer de forma mais natural. Como ele estava muito acima, foi utilizado o forceps para tira-lo lá de dentro e não precisarmos fazer uma cesariana.

Bem, o fato é que apesar de eu ter entendido a necessidade do forceps naquele momento, ter confiado na
equipe médica e não ter passado pela cirurgia, isso não me deixou feliz em relação ao parto dele. Fiquei muito paranóica durante muito tempo, principalmente porque nas 2 primeiras semanas ele teve uma sequela de ter o nervo do rosto afetado, o fazendo ter a boca torta. No dia em que nasceu, a pediatra disse que não podia afirmar se isso se reverteria ou não. Ou seja, depois que passou ficamos aliviados, mas durante esse tempo, tinhamos que conviver com essa incerteza e isso tb dificultava a amamentacao etc.

Bom, Lucas hj tem quase 2.5 anos e é lindo e saudável. No entanto, essa experiencia com ele, me fez querer ter uma experiencia diferente no segundo parto. Assim, a minha primeira providencia para tal foi escolher quem me acompanharia no prenatal.

A minha gravidez sendo de baixo risco me permitia ser vista pelo médico de familia, midwives ou obstetra de acordo com o sistema de saúde canadense. Como já  tinha ouvido falar muito bem das midwives e após ver o documentário “thebusinessof beingborn” , resolvi ser acompanhada por elas , uma vez que eu já tinha sido acompanhada por um obstetra da primeira vez e não morri de amores pelo serviço prestado, apesar de respeitá-lo. Assim, no início da gravidez, consegui uma midwife. Uma não, duas, pois pra começar, a grávida é acompanhada por 2 midwives sempre: uma pra mãe e outra para o bebe. Mas o sistema faz com que a grávida veja cada uma alternadamente durante toda a gestação e quem estará lá no dia do parto, serão elas e não o medico plantonista do hospital. Isso, pra mim fazia e fez uma GRANDE diferença. Além disso, as consultas levavam 30 minutos sempre e nao 5 , como era com o obstetra. Eu pude discutir todas as minhas neuras, criar meu plano de parto ao longo dos 9 meses e criar um relacionamento com elas.

E só pra complementar, as midwives tem uma abordagem mais natural, o que estava alinhado com o que eu queria e ainda fazem acompanhamento pós-parto em casa, o que facilita MUITO, ou seja, de fato um service diferenciado. Mas vale lembrar que isso é pra gravidez de baixo risco pois elas não fazem cirurgias ou intervenções mais sérias.

Bom, mas agora vamos ao parto da Livia em si. As contrações começaram no dia 04 de setembro por volta de 10pm. Varou noite a dentro com o que eles chamam de early labour. Estágio inicial do trabalho de parto, que nao tinha uma regularidade, mas a frequência era de 15 ou 20 ou 30 em 30 minutos. Não consegui dormir direito essa noite. Na manha do dia 05, começaram a ficar mais intensas, mas eu sabia que ainda estava no inicio. Mandei um page para as midwives, dizendo que estava em early labour. O tampão tinha saído na madrugada. Falei pro Ricardo ficar em casa. Minha mãe e minha irmã Andrea estavam aqui e só me observavam. Eu fui tomar banho de banheira pra relaxar. Consegui. Depois fui tomar café e só dava uma paradinha qdo vinha uma contração. Fiquei na sala da minha casa, no sofá e minha irma fazia Reiki e Johrei (um tipo de energização com as maos) em mim todo o tempo. Fiz diversas posicoes para aliviar as contrações que ficavam mais frequentes. Depois do almoço, fui para o meu quarto, tomei outro banho de banheira e depois deitei na cama. As contrações se intensificavam mas a frequência não era regular. A essa altura já estavam de 5 em 5, as vezes 7 e 7 minutos, 8 em 8. Com 1 min ou 30 seg de duração.

Às 04pm, resolve ligar para as midwives e dizer que eu sabia que ainda não estava muito dilatada, mas que as contrações estavam mais fortes, então eu queria ser checada. Durante a conversa com ela, algumas contrações e ela percebeu que eu já não conseguia mais falar tanto durante, então realmente me pediu para ir ao hospital.

Chegamos as 05:30pm do dia 05/09 no hospital. Lá estavam a Christy (minha midwife principal) e a Suneet, a estudante que tb me acompanhou. Elas checaram e o bebe estava bem e minha dilatacao 04cm. Eu poderia ser admitida no hospital, mas ainda teria um longo caminho até chegar a 10 cm.

Bem, fui admitida, troquei de roupa e fiquei andando pelo corredor pra tentar adiantar o processo, tb ficava sentada na bola de pilates de vez em qdo. A cada 15 minutos, as midwives checavam os batimentos cardiacos do bebe com o dopler.

Por volta de 08pm, elas checaram minha dilatação e estava de 5 a 6cm. Ok, evoluimos um pouco em 2.5hs. Mas algo estava diferente, apesar da dilatação acontecendo, o bebe nao estava encaixado. Depois dessa checagem, vieram 2 contrações arrebatadoras, fortes, mas na região do quadril.

Em torno de 09pm, elas chamaram o obstetra de plantão para checar, só pra ter uma outra opinião, pois elas achavam o bebe muito acima do que deveria. Ele checou e disse que eu estava com 09cm! Foi uma alegria. Pois eu pensei que dali pra 10 não demoraria tanto e em torno de umas 2 ou 3 horas, eu estaria parindo. Eu ainda estava com o mindset de seguir naturalmente sem anestesia. Fiquei feliz de saber que estava com 09cm e pedi para ir pra banheira do hospital pois a essa altura , não adiantaria tomar a peridural, se em teoria, faltava pouco para parir. Vale dizer que minha bolsa ainda não tinha estourado.

No esquema das midwives, como faltava pouco, a Christy ligou para a Amy (midwife secundaria) para que ela viesse fazer a cobertura do parto junto com elas. Eu tive mais consultas com a Amy do que com a Christy, então de alguma maneira, me sentia mais conectada a ela e fiquei feliz qdo ela chegou.

Depois de meia hora na banheira, saí e voltei para o quarto. As contrações deram uma trégua, mas eu estava relaxada e ao mesmo tempo bem cansada. Uma coisa estava estranha, apesar de estar com bastante dilatação, eu ainda sentia as contracoes na altura do quadril. Ou seja, eu não tinha a sensação de que estava com essa abertura toda e meu corpo, através das contrações, tb não dizia isso. Eu comecei a ficar muito cansada. Elas me colocaram em outra posição pra que as contrações ficassem mais fortes. Isso de fato aconteceu, mas pelo meu cansaço, eu já não estava mais conseguindo passar por elas da mesma maneira. Estava comecando a ficar meio desesperada de não aguentar. Depois disso, eu já estava pedindo arrego e elas começaram a dizer que talvez precisássemos de ocitocina sintética para ajudar as contracoes e fazer o bebe descer. Nessa hora, eu disse que queria tomar a anestesia, pois com indução via ocitocina, as contrações são MUITO fortes e eu precisava dormir um pouco para recuperar a energia. Eu estava quase desmaiando de cansaço neste momento. Foi aí que a Amy resolveu me checar novamente. Durante a checagem, a bolsa estorou sozinha. Ela então disse que eu não estava com 9 cm, mas no máximo 7cm e o bebe ainda não estava encaixado. Ficamos todos sem saber que pq o tal medico achou que era 09 e criou uma falsa expectativa em todos que a coisa progrediria rapidamente a partir dali.

Assim, por volta de meia-noite, eles me deram anestesia, em meio a fortes contrações. Aí, eu pude relaxar e dormir um pouco pra me recuperar e ter energia para os pushes. Eles colocaram os monitores na barriga para ouvir os batimentos cardíacos do bebe. Alem da anestesia, tomei tb a ocitocina. Ou seja, mais algumas horinhas e poderia estar parindo. Livia se comportava bem la dentro (ao contrario do Lucas que entrou em sofrimento). Isso nos dava segurança mas precisávamos ficar de olho.

Por volta de 03am, elas falaram que o bebe ainda estava alto e que poderíamos tentar uma carga extra de ocitocina pra forçar as contrações e o bebe descer ou poderíamos tentar empurrar pra ela descer. Eu escolhi empurrar (push) pois queria manter o nivel de medicacao no minimo possivel. Tb não apertei o botao de dose extra de anestesia nenhuma vez. Eu me sentia melhor pelo menos nao estava colocando mais remedio dentro do meu corpo e tb do bebe.

Começamos a tentar fazer os pushes. Livia descia e subia. Eu nem sempre fazia o push corretamente, o que tb não ajudava. Tentamos varias vezes. Até que chegou a um ponto que elas não entendiam pq o bebe não encaixava e não descia e eu por minha vez comecei a ficar desesperada, de ter que fazer uma intervenção como a do Lucas ou até mesmo uma cesaria. Nessa hora, eu fiquei nervosa e chorei. Falei que precisavamos de um plano, pois o bebe precisava nascer de algum jeito e eu não estava vendo luz no fim do tunel em relacao ao encaixe dela. O posicionamento dela era igual ao do Lucas, mas eu nao queria forceps novamente e o aspirador nao poderia ser usado (pois ela precisaria estar mais abaixo pra tal). Assim, estava chegando a conclusão de que talvez a cesaria seria a saida. Essa possibilidade me frustrava mas ao mesmo tempo eu estava consciente de ter tentado.

Por volta de 06am, o médico obstetra (o mesmo que errou nos 09cm) voltou e tb falou de uma possível cesaria. Ele me checou e disse que o bebe já estava bem mais abaixo que antes mas nao estava numa posição favorável. Com os 3 dedos, ele conseguiu virar a cabeça do bebe e falou para tentarmos mais uma vez, pois caso não conseguissemos a recomendacao dele seria a cesaria. Uma das midwives falou que nos o surpreenderiamos.

Nisso, eu comecei a sentir diferentes contrações. Apesar de não sentir a dor, eu sentia uma pressão ENORME la embaixo, coisa que ainda não tinha sentido. Falei pra elas e elas falaram que isso era ótimo e nós deveríamos tentar os pushes novamente. Recomeçamos entao os pushes e pra nossa surpresa, Livia comecou a descer. Elas comecaram a ficar euforicas e diziam:”Leia, tá funcionando, vc tá conseguindo mover o bebe. Ela está vindo”. Assim, peguei uma reta, foquei e rezei e pedi pra Nsa. Sra. me dar forças e fui fazendo os pushes. Qdo a cabeca começou a aparecer, elas falaram :”Ela está vindo, Leia. Good Job!” Foram VARIOS pushes pra cabeça sair. Tive que ir devagar pra que saisse corretamente e eu não tivesse lacerações. E eu só queria saber de empurrar e empurrar pra ela sair, mas tinha que segurar a onda nesse momento. E o Ricardo segurava minha cabeça pra frente e falava :”Tá vindo mesmo, eu tô vendo a cabeça!”. A pressão la embaixo era ENORME!!

Até que após muitos pushes, as 08:17am, a cabeça saiu e aí foi mais 1 push e veio o restante do corpo !! Foi apoteótico!! Eu caih no choro, elas pegaram o bebe na mesma hora e colocaram no meu colo. Toda sujinha, linda, cheia de curvinha. Um bebe grande: 3845 gramas. Pronta para mamar! Ricardo cortou o cordão umbilical. E eu continuei chorando por um tempo . Ricardo conseguiu pegar em video. Tiramos algumas fotos. Eu queria colocar a musica Sol de Primavera do Beto Guedes pra ela ouvir assim que nascesse, mas não funcionou no celular, aí, entre lágrimas e soluços, eu cantei pra minha filha:

“Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez
Já sonhamos juntos semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar
Já choramos muito, muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer
Sol de primavera
abre as janelas do meu peito
a lição sabemos de cor só nos resta aprender... “

Essa cena ficou gravada no coração, pois entre cantar e chorar, não conseguimos filmar :).

Bom, dizem que o trabalho de parto do segundo filho é mais facil e rápido que o primeiro. De fato,  foi mais rápido,  34 horas no total contra quase 48 horas do  Lucas.  Mas mais fácil não foi exatamente o caso.

Chegamos a conclusão que mesmo que eu tenha outros filhos, os trabalhos de parto provavelmente serão assim tb pois a minha pelvis é estreita e não permite que os bebes fiquem encaixados antes da hora de realmente sair. Mas mesmo assim, fiquei satisfeita com o fato de ter sido um parto vaginal sem intervenção de nenhum instrumento além da medicação e por ter sentido toda aquela pressão pra ela sair. As midwives foram fantásticas. Eu realmente recomendo esse tipo de atendimento aqui no Canada para gravidez de baixo risco. Eu me senti no controle da situação o tempo todo e isso foi muito importante pra mim. Elas me deram todo o suporte.

Saí do hospital no dia 07 de setembro e elas fizeram 5 visitas a minha casa para checar o bebe e me checar , nas 2 primeiras semanas de vida.

Livia é um bebe lindo, adoravel e o Lucas ficou super animado qdo a viu chegando em casa. Ao longo dos dias, temos que ficar de olho nele, pois ao mesmo tempo que quer abracar e beijar, tb quer dar um beliscao ou jogar algo em cima dela :).

Mas essa foi a historia de parto da Livia!
Video da Emocao
Bjs
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